sábado, 31 de julho de 2010

Maconha Medicinal

Ruy Castro
Folha de São Paulo - RIO DE JANEIRO -
A Secretaria Nacional Antidrogas, órgão do governo federal, quer criar uma agência para pesquisar os "efeitos medicinais" da maconha. Se trabalhar direito, será uma decepção para os usuários da erva: a maconha "medicinal" não viria para ser fumada -mesmo porque esta tem todos os males do tabaco e mais alguns.
A lista de mazelas provocadas pela maconha fumada, estabelecida por médicos da Universidade de Oxford e citada na Folha ("Tendências/Debates", 22/10) pelos doutores Ronaldo Laranjeira e Ana Cecília Marques, inclui dependência química, bronquite crônica, insuficiência respiratória, risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade, depressão, episódios psicóticos, leseira, apatia e baixa do rendimento escolar ou profissional.
(foto - Folha de São Paulo)

Donde, se provadas as qualidades terapêuticas da maconha-embora ninguém tenha conseguido até hoje descobrir sua superioridade em relação às substâncias tradicionais-, seu uso deveria se dar em forma de gotas, pomada, supositório ou o que for, e não enrolada, queimada e tragada. Sem contar que, depois de amplamente vitoriosa em banir o fumacê, a sociedade não poderia aprovar a volta ao espaço público de gente soprando fumaça sobre inocentes e passivos circunstantes.
A secretaria faria melhor se concentrasse seus esforços numa guerra que o Brasil se arrisca a perder: contra o crack, a pior droga já inventada. E a mais covarde.
Os traficantes, mais práticos e profissionais, e beneficiando-se da tolerância com que o Brasil encara a maconha, puseram no mercado a craconha -a maconha enriquecida com fragmentos de pedras de crack. Fulaninho, 15 anos, pega um baseado com seu fornecedor e, sem saber que ele veio premiado, fuma o crack. Com algumas tragadas, estará dependente. E no grau inferno.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Religião, família e informação podem afastar jovens das drogas, diz pesquisa.

Religião, família e informação podem afastar jovens das drogas, diz pesquisa.

Praticar uma religião, manter diálogo com a família e ter acesso a informações são atividades que podem afastar os jovens das drogas, segundo uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgada nessa segunda-feira (12/7). O objetivo do estudo era analisar quais ações podem prevenir o uso de drogas entre adolescentes de baixo poder aquisitivo.

Para isso, 62 jovens, usuários ou não, foram submetidos a uma entrevista para listar as estratégias que eles consideram mais eficientes.

A religião foi a mais citada. Ao todo, 81% dos não-usuários praticavam alguma religião, contra 13% dos usuários. Manter laços familiares sólidos, mesmo que só com a mãe, e ter acesso a informações sobre os riscos da dependência foram fatores citados em seguida.

Nota: Apesar de tantas críticas dos céticos, a religião figura entre os motivos de afastamento das drogas.

A prática religiosa e a participação em comunidades religiosas pode ajudar, conforme verificou o estudo. É óbvio que isso não significa a impossibilidade de teremos jovens drogados, mas é uma comprovação da importância.

A religiosidade, para muitos entrevistados, adquire relevância na sua luta contra a dependência porque os motiva à crença em um ser superior que procura o seu bem-estar.

Outro aspecto enfocado é o da religião em família, ou seja, hábitos e conceitos religiosos que são transmitidos de pais para filhos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Risco de AVC aumenta até duas horas após o consumo de álcool

Risco de AVC aumenta até duas horas após o consumo de álcool

RCM Pharma

Ao entrevistarem 390 vítimas de acidente vascular cerebral (AVC) isquémico três dias após o episódio clínico, os investigadores, liderados por Elizabeth Mostofsky, do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, EUA, verificaram que o consumo de álcool parecia ter um impacto imediato sobre o risco de sofrer um AVC.

Do total dos doentes, 14 tinham bebido pequenas quantidades de álcool menos de uma hora antes de sofrerem o AVC, avança o site Saúde na Internet. Os resultados também indicaram que quando se consome bebidas alcoólicas − seja vinho, cerveja ou licor, os riscos de sofrer um AVC são 2,3 vezes maiores na primeira hora, 1,6 vezes maiores na segunda hora e 30% menores após 24 horas do que os apresentados por indivíduos que não bebem.

Este padrão manteve-se igual independentemente do tipo de álcool consumido e de os pacientes terem ou não realizado exercício antes de sofrerem o AVC.
O padrão também não se alterou quando os investigadores excluíram o consumo de mais de duas bebidas alcoólicas.

Estes dados podem estar relacionados com os efeitos imediatos do consumo de álcool, que conduz a um aumento da pressão arterial e da agregação plaquetária, aumentando o risco de coagulação, sugerem os cientistas, em comunicado enviado à imprensa.

Apesar de o consumo de álcool a curto prazo estar relacionado com o risco de AVC, os investigadores notaram que, a longo prazo, a ingestão moderada de álcool poderá, na realidade, reduzir o risco de enfarte do miocárdio e de AVC. Isto deve-se ao facto de o consumo moderado e constante de álcool ajudar a uma maior flexibilidade dos vasos sanguíneos.

Benefícios econômicos do tratamento de dependência química para empregadores

Benefícios econômicos do tratamento de dependência química para empregadores.

Economic benefit of chemical dependency treatment to employers
Neil Jordan, (Ph.D.)a,b, Grant Grissom, (Ph.D.)c,4, Gregory Alonzo, (M.B.A.)c,
Laura Dietzen, (M.A.)c, Scott Sangsland, (M.A.)d
Journal of Substance Abuse Treatment 34 (2008) 311– 319

Nos últimos 20 anos, muitos estudos têm estabelecido os benefícios econômicos do tratamento da dependência química.
Uma das principais conclusões de uma recente revisão da literatura sobre custo eficácia e custo-benefício do tratamento da dependência química é que os benefícios econômicos de tratamento geralmente excedem o custo do mesmo. A redução de comportamento criminal e o aumento do emprego foram considerados condutores fundamentais dos benefícios econômicos do tratamento. A maioria destes estudos abordou tratamentos financiados e analisaram os benefícios do ponto de vista dos pacientes, programas de tratamento ou sociedade. Relativamente poucos estudos têm considerado os benefícios econômicos do tratamento do abuso de substância da perspectiva dos empregadores.
A perspectiva do empregador é importante porque um grande número de indivíduos com dependência têm empregos integrais ou de meio expediente e menos de 50% das pessoas com problemas com álcool ou outras drogas que necessitam de tratamento têm planos de saúde que cobrem a desintoxicação e tratamento ambulatorial, embora o grau de cobertura varie muito.

Existem vários resultados relacionados ao trabalho que devem ser considerados na avaliação dos benefícios econômicos do tratamento do abuso de substâncias para os empregadores. Estudos em geral concentraram-se em abstinência ou aumento de horas de trabalho. Um desses estudos argumentou que devido aos custos relacionados ao tratamento do abuso de substância taxas de abstinência não são suficientemente importantes para justificar o financiamento
do tratamento pelo empregador. Porém faltavam dados sobre os custos associados à diminuição do desempenho, atrasos ao trabalho, e perturbação de negócios.

Embora existam duas recentes publicações que analisam os benefícios econômicos para os empregadores abordando a melhoria da produtividade devido ao tratamento da depressão, verificou-se que não foram publicados estudos em relação ao abuso de substâncias que incluam medidas de abstinência, conflito com gerentes e colegas de trabalho, ou de produtividade.
Devido ao fato de que mais de 70% dos custos estimados do abuso de álcool de 1998 podem ser atribuídos à perda de produtividade, a compreensão dos efeitos do tratamento do abuso de substância no trabalho e na produtividade pode ser de significativa importância para os empregadores.

Os dados para este estudo são provenientes do programa do Kaiser Permanent's Addiction Medicine (KPAM), um centro de tratamento de abuso de substância coberto por plano de saúde privado com quatro locais de atendimentos participantes. Participaram do estudo 498 indivíduos que preencheram a avaliação antes, 30 e 60 dias depois do tratamento. O estudo foi realizado entre janeiro de 1999 e maio de 2005.

Os resultados relatados neste artigo indicam que os pacientes que estão envolvidos no tratamento de dependências há mais de 1 mês alcançaram uma acentuada redução de problemas relacionados ao trabalho.
Ganhos referentes a atraso e conflitos de trabalho são mantidos após 60 dias de tratamento, enquanto a abstinência e a produtividade continuam a aumentar. Pacientes que continuaram em tratamento após 2 meses experimentaram ganhos, que resultaram em um benefício econômico para os empregadores se a sua média de salário anual for maior que US$ 36.565.

O valor líquido da economia por conseqüência das melhorias para os seus patrões depende da taxa de utilização do tratamento e do nível salarial do empregado. Para uma taxa de utilização de 0,9% e um trabalhador com US$ 45000 de salário anual, o benefício líquido do tratamento foi de US$ 1.538.

Os ganhos relacionados ao tratamento para o empregador ocorreram nos 30-60 primeiros dias de tratamento. Pacientes que permaneceram em tratamento durante períodos mais longos relatam ganhos adicionais, porém diminuídos, principalmente nas áreas de abstinência e da produtividade no trabalho.
Porque não há custo adicional para os empregadores associados à utilização mais intensiva e durante mais tempo do tratamento, e porque ambos são associados a benefícios adicionais, o retorno do investimento para os empregadores aumenta juntamente com a utilização e a duração do tratamento.
É benefício para a entidade patronal encorajar a identificação precoce de problemas e a aderência ao tratamento da dependência evitando, assim, os custos associados ao comprometimento do funcionário devido ao uso de substancias e tendo o retorno do investimento reforçado.

Para as empresas com um salário médio anual menor que $ 36565, existe perda no retorno do investimento ao oferecer tratamento de dependência química, porém esse dado está relacionado apenas a avaliação das 5 dimensões avaliadas neste estudo (aumento da produtividade, abstinência, redução do atraso no trabalho, redução do conflito com gerentes, redução de conflitos com colegas de trabalho).

No entanto, pesquisas futuras podem demonstrar de forma positiva o retorno do investimento mesmo com níveis salariais mais baixos quando os benefícios indiretos, tais como despesas médicas fora do tratamento de dependência química e melhora no quadro psiquiátrico e no funcionamento familiar/social forem considerados.

Este último pode ajudar os empregados a evitar recaída e para manter os ganhos do desempenho laboral por mais de 12 meses, contribuindo para um retorno do investimento positivo. Estes achados podem permitir que gestores compreendam melhor o impacto do tratamento da dependência química na empresa.

Maconha, o dom de iludir

Maconha, o dom de iludir

RONALDO RAMOS LARANJEIRA e ANA CECILIA PETTA ROSELLI MARQUES
Folha de São Paulo

Que nem pesquisadores nem a população se iludam de que exista indicação terapêutica para utilizar maconha que já seja aprovada pela ciência Semanas atrás, a Folha noticiou a proposta de criar-se uma agência especial para pesquisar os supostos efeitos medicinais da maconha, patrocinada pela Secretaria Nacional Antidrogas do governo federal.
Esse debate nos dias atuais, tal qual ocorreu com o tabaco na década de 60, ilude sobretudo os adolescentes e aqueles que não seguem as evidências científicas sobre danos causados pela maconha no indivíduo e na sociedade.
Na revisão científica feita por Robim Room e colaboradores ("Cannabis Policy", Oxford University, 2010), fica claro que a maconha produz dependência, bronquite crônica, insuficiência respiratória, aumento do risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade e depressão, episódios psicóticos e, por fim, um comprometimento do rendimento acadêmico ou profissional.

Apesar disso, o senso comum é o de que a maconha é "droga leve, natural, que não f az mal".
Pesquisas de opinião no Brasil mostram que a maioria não quer legalizar a droga, mas grupos defensores da legalização fazem do eventual e ainda sem comprovação uso terapêutico de alguns dos componentes da maconha prova de que ela é uma droga segura e abusam de um discurso popular, mas ambivalente e perigoso.
O interesse recente da ciência sobre o uso da maconha para fins terapêuticos deveu-se à descoberta de que no cérebro há um sistema biológico chamado endocanabinoide, onde parte das substâncias presentes na maconha atua.Um dos medicamentos fruto dessa linha de pesquisa, o Rimonabant, já foi retirado do mercado, devido aos efeitos colaterais.
Até hoje há poucos estudos controlados, com amostras pequenas, e resultados que não superam o efeito das substâncias tradicionais, que não causam dependência.
Estados americanos aprovaram leis descriminalizando o uso pessoal de maconha, que é distribuída sem controle de dose e qual idade.Contradição enorme, pois os médicos são os "controladores do acesso" para uma substância ainda sem comprovação científica.
De outro lado, orientam os pacientes sobre os riscos do uso de tabaco.
Deve-se relembrar que os estudos versam sobre possíveis efeitos terapêuticos de uma ou outra substância encontrada na maconha, não sobre a maconha fumada.
Os pesquisadores brasileiros interessados no tema devem realizar mais estudos por meio das agências já existentes, principalmente diante do último relatório sobre o consumo de drogas ilícitas feito pelo Escritório para Drogas e Crime das Nações Unidas, que aponta o Brasil como o único país das Américas em que houve aumento de apreensões e consumo da maconha.
E se, no futuro, surgir alguma indicação para o uso medicinal da maconha, o processo de aprovação, que ainda não atingiu os padrões de excelência, deve contextualizar esse cenário, assim como o potencial da maconha de ca usar dependência.
Espera-se que a política nacional sobre drogas seja redirecionada em caráter de urgência, pois enfrenta-se também aqui o aumento das apreensões e consumo de cocaína e crack, que exige muitos esforços e recursos para sua solução.Que nem pesquisadores nem nossa população se iludam de que exista hoje uma indicação terapêutica para utilizar maconha aprovada pela ciência.

RONALDO RAMOS LARANJEIRA é professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas (Inpad/CNPQ). ANA CECILIA PETTA ROSELLI MARQUES, doutora pela Unifesp, é pesquisadora do Inpad/CNPQ.

Maconha, feijoada e o debate sobre a legalização das drogas

Maconha, feijoada e o debate sobre a legalização das drogas

Por José Alexandre de Souza Crippa

A feijoada é um dos pratos mais típicos da cozinha brasileira sendo comumente feita da mistura de feijão preto e de vários tipos de carne de porco e de boi. Chega a mesa acompanhada de arroz, farofa, couve refogada e laranja fatiada, entre outros ingredientes. Nas receitas mais sofisticadas não possui mais do que 30 ingredientes, incluindo-se os acompanhamentos e temperos. Mesmo aquele que não é cozinheiro, chef ou especialista em gastronomia sabe distinguir o feijão – principal ingrediente do prato – da feijoada completa. Ou seja, é consenso que feijão não é feijoada.A maconha, nome popular da planta cannabis sativa, possui mais do que 400 componentes, sendo que vários destes são denominados ‘canabinóides’ (substâncias que atuam nos receptores com este mesmo nome).

Na primeira metade dos anos 60 foram determinadas as estruturas químicas dos principais canabinóides, incluindo o ∆9-tetrahidrocanabinol (∆9-THC), componente da droga responsável pelos efeitos psicoativos da planta. Atualmente são conhecidos cerca de 80 canabinóides, com outros efeitos, muitos deles com potencial terapêutico. Como exemplo, o canabidiol (CBD), um canabinóide que chega a constituir até 40% do extrato da maconha, apresenta vários efeitos opostos aos do ∆9-THC, tais como efeito ansiolítico e antipsicótico.

Ao contrário do ∆9-THC, o uso do CBD isoladamente não apresenta os efeitos típicos do uso da maconha, sendo que grupos brasileiros estão na vanguarda nas pesquisas sobre o potencial terapêutico desta substância. Atualmente estudos do CBD na doença de Parkinson, esquizofrenia, fobia social, estresse pós-traumático, tabagismo, epilepsia, depressão, entre outras condições estão sendo conduzidos no país. Pode-se assim dizer que os canabinóides são componentes da maconha, mas que ambos não são sinônimos. Ou seja, canabinóide não é maconha.

No começo do século passado, quando os princípios ativos da droga não haviam sido isolados, estratos de maconha foram comercializados por grandes laboratórios farmacêuticos para diversas indicações. Entretanto, as evidências disponíveis não justificam que fumar maconha possa servir para fins terapêuticos. Os estratos de maconha apresentam ampla variabilidade em sua composição, estabilidade e potência. Assim, seguindo os mesmos princípios da evolução da farmacoterapia, tem-se buscado o desenvolvimento de compostos canabinóides mais puros que permitam a dosagem mais precisa e aí reduzindo o risco de significativos efeitos colaterais indesejáveis.

A maconha é a droga ilícita mais utilizada na maioria dos países, sendo que dependendo da dose, o seu uso pode levar alguns indivíduos a desenvolverem sintomas psiquiátricos e alterações cognitivas transitórias. Embora controverso, o uso recreativo crônico da maconha, dependendo da dose, freqüência e precocidade do início, pode induzir alterações cognitivas duradouras e facilitar quadros psiquiátricos em usuários vulneráveis. Estudos longitudinais prospectivos realizados na Suécia, Inglaterra e Nova Zelândia sugerem uma associação entre o uso crônico de maconha e maior risco para o desenvolvimento de esquizofrenia. Hoje a síndrome de abstinência da maconha é uma condição reconhecida e sabe-se que alguns usuários podem vir a desenvolver dependência. As intervenções terapêuticas para esta condição – farmacológicas e não-farmacológicas – atualmente disponíveis demonstraram eficácia apenas modesta. Modernos estudos de imagem cerebral apontam para alterações no funcionamento cerebral com o uso crônico e recorrente da droga. Igualmente, complicações clínicas como câncer, problemas respiratórios, imunológicos entre outras também foram associados ao uso da maconha inalada.
Dessa forma, a afirmação de que atualmente existe conhecimento científico suficiente para a liberalização do uso medicinal ou recreativo da maconha no Brasil não é de fato verdadeira. Além disso, confunde e desinforma, pois considera a maconha e os canabinóides como equivalentes.
Todo debate científico a respeito da legalização da maconha, deveria necessariamente estar respaldado em dados empíricos baseado em experimentos clínicos e em estudos epidemiológicos. Quando a questão é abordada de forma politizada, com viés ideológico, ou pior ainda, levando-se fatos particulares de foro individual ou da lei para o debate científico, é no mínimo desnecessária e gera ainda mais confusão.

Os canabinóides e os medicamentos que atuem no sistema canabinóide cerebral têm mostrado possuir fantástico potencial e acredita-se que poderão beneficiar milhões de pessoas no mundo todo. O melhor entendimento dos mecanismos de ação dessas substâncias com a conseqüente legalização dos canabinóides poderá ser uma espetacular conquista científica, levando a significativa redução de sofrimento e melhor qualidade de vida a portadores de diversas doenças e transtornos. Por outro lado, o debate da legalização da maconha para fins recreativos só deveria ocorrer após a sociedade e a comunidade cientistas estar bem esclarecida das potenciais complicações da droga ou de sua eventual ausência de riscos. Porém, para isto é fundamental separar o joio do trigo; o feijão da feijoada ou – no caso – os canabinóides da maconha.

José Alexandre de Souza Crippa
Professor Doutor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quando os pais não educam a mídia educa

Quando os pais não educam a mídia educa PDF Imprimir E-mail
Jornal da Manhã - Articulistas
Diógenes Pereira da Silva
Quando não se educa adequadamente os filhos, a mídia assume esse papel, porém na visão da extremidade oposta da educação salutar. A visão periférica das crianças e adolescentes é exacerbada e suas propriedades de perceber o que está ou não fora do foco principal de aparição são simplesmente espetaculares.
No tangencial espectro, os jovens de hoje, futuros homens do amanhã, mormente já têm discernimento, portanto, são formadores de opiniões e podem condicionar as suas fantasias às situações prazerosas associadas às grandes propagandas midiácas. Este conceito é apropriado às propaganda da cerveja, onde só são evidenciadas ocasiões de prazeres, mas que, no entanto, jamais mostra a posição destrutiva alcançada pela sua corroboração no que tange o ranque mundial das mortes por ela provocada. Ocorre que, nem todos os organismos reagem da mesma forma sob o efeito do álcool, aí reside o culminante perigo, alguns têm o poder de dominar o hábito de beber outros não, que na grande maioria não sabem o momento exato de parar a ingestão, que pode até levar a óbito. Nesse contexto, como fica a proibição de bebidas alcoólicas para menores de idade?

Crianças e adolescentes passam em média 02 (duas) horas diárias em frente à TV, e geralmente, têm uma memória fotográfica espetacular, mesmo sem saber pronunciar o nome correto dos produtos, encontram uma forma de identificá-los aos pais, sejam tênis, celulares ou outro produto qualquer, essa é a visão ostentada pelo Marketing das empresas contemporâneas que enxergam um futuro promissor, com vistas genuinamente em cenários prospectivos. O que dizer das propagandas das bebidas alcoólicas que fomentam o mercado de drogas lícitas destruidoras de milhares de vidas de crianças e adolescentes? Senão vejamos: “o Congresso americano autorizou dotação milionária para a condução de estudo pela National Academy of Sciences (NAS) - Academia Nacional de Ciências - sobre a ingestão de bebidas alcoólicas por menores de idade”. Outros estudos e pesquisas americanas evidenciam que o álcool mata 6,5 vezes mais adolescente do que todas as outras drogas ilícitas juntas. E no Brasil quantos são? Na própria pesquisa realizada pelo aludido comitê abrangido pela National Academy of Sciences (NAS) por profissionais altamente qualificados nos EUA, provaram que os jovens americanos consomem anualmente mais de um bilhão de latinhas e garrafas do produto (cerveja), pesquisa sustentada pelo grupo de estudos do Departamento de Saúde dos Estados Unidos. E no Brasil, quais os dados estatísticos?

Embora exista o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em plena vigência e suas proibições midiácas, e ainda, alguns projetos dos Estados e União em combativa a esses males, alguns desenvolvidos pela PMMG como: PROED e JCC e tantos outros, a contraposição negativa da mídia (propagandas de cervejas) a esses projetos, abrange alcance 1000% há mais da ostentação dos malefícios do álcool apontados e combatidos pelo poder Estatal. E os pais ausentes, que precisam trabalhar para o sustento da família, que são obrigados muitas vezes a deixar os filhos a mercê das propagandas, que chances eles têm contra a potência midiáca? Existem sim os efeitos positivos dos projetos e são espetaculosos, além de mostrar a realidade vivida, mas qual a sua eficácia em contrapartida da mídia? Alcoolismo é uma questão de Saúde Pública, onde deve haver o comprometimento de todas as autoridades e órgãos estatais. Se existe uma campanha nacional contra as drogas ilícitas, embora seu efeito não seja evidente, por que não existe uma campanha contra as drogas lícitas? Só conheço de forma ostensiva a do tabaco que faz frente à hipocrisia das propagandas das bebidas alcoólicas, que primeiro incentiva a beber e depois: se beber não dirija! Ora, uma grande parte dos crimes violentos no Brasil é acometida por pessoas que fizeram ingestão abusiva da droga álcool, que é uma porta de entrada para as drogas ilícitas.

Afeto e escola para vencer vício

Afeto e escola para vencer vício PDF Imprimir E-mail
Conferencista mexicano diz que dependente químico precisa ser acolhido e cercado de hábitos saudáveis para resistir ao tóxico

Zero Hora - KAMILA ALMEIDA

Atrair em vez de repelir. Esta é a máxima adotada pelo psicólogo e terapeuta familiar mexicano Ricardo Sánchez Huesca quando o assunto é o trato com os usuários de drogas. Durante o encerramento do 1º Congresso Internacional Crack e Outras Drogas, ontem, em Porto Alegre, Huesca apresentou fatores de risco que levam ao uso de entorpecentes.
O especialista aposta na afetividade para recuperar um dependente químico e diz que a escola pode ser um ambiente de resgate.

– Pais, professores, supervisores escolares devem ser ensinados a acolher o dependente químico, pois o viciado precisa se cercar de coisas saudáveis, se divertir para resistir ao consumo de drogas. Mas, para que isso ocorra, as famílias dos colegas, devem estar bem preparadas para lidar com a situação – diz.

Em contrapartida, o terapeuta relata que é no grupo de amigos que as crianças se espelham. Por isso, os pais precisam ficar atentos aos relacionamentos dos filhos.

Segundo o psicólogo, não é difícil estudar casos graves, pois são minoria.

– É mais do que um problema de saúde. É também um problema econômico e de estrutura social. É preciso ensinar o jovem a dizer não aos amigos e a ter autoestima – afirma.

Especialistas em combate às drogas do México, Colômbia, Argentina e Brasil dividiram experiências com os mais de mil participantes de nove Estados brasileiros durante os quatro dias do evento, que foi realizado no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

sábado, 17 de julho de 2010

O equívoco da liberalização da maconha

O equívoco da liberalização da maconha

SEGS - Portal Nacional Seguros & Saúde - ABEADDe tempos em tempos a discussão ganha espaço; A Abead alerta para seus malefícios e implicações
A equivocada convenção social de que existem drogas “leves” representa um grande problema de saúde pública. Medidas restritivas contra o álcool e o tabaco tentam colocar a imagem dessas substâncias em seu devido lugar: como a de verdadeiras drogas, com implicâncias severas na saúde coletiva e consequências em toda a sociedade, como acidentes de trânsito e violência doméstica, para citar apenas estes.Em situação semelhante encontramos a discussão sobre a liberalização da maconha, que veio à tona nesta semana com a divulgação de posicionamento da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento favorável à liberalização da erva para uso medicinal.A Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) alerta para os riscos de uma medida como essa, a começar pelo fato de que a maconha é uma das principais portas de entrada para o consumo de outras drogas, assim como ocorre com o tabaco, principalmente entre os jovens.
De acordo com o presidente da Associação, o psiquiatra Carlos Salgado, argumentos como o de que a maconha poderia ter fim medicinal não justiçam liberalização. “Existem alternativas para o controle de dor ou de apetite, por exemplo, que não implicam no uso da substância ou extrato. Temos várias opções bem estabelecidas, até para pacientes terminais”, comenta.“Discutir a liberalização da maconha é ir na contramão das políticas essenciais e urgentes para a prevenção do uso de drogas. A maconha não é uma droga benigna. Não está isenta de riscos. Além da dependência, pode causar câncer de cabeça, pescoço e pulmão e uma série de outras complicações”, diz o psiquiatra, com a estimativa de que um em 10 daqueles usuários de maconha tornam-se dependentes em algum momento do seu período de quatro a cinco anos de consumo pesado.Outra grande preocupação constitui no número cada vez maior de figuras públicas que admitem e defendem o consumo. “Essas pessoas são tidas como modelo, em especial para os jovens, e acabam por reforçar estigmas entre música, fama, arte e o consumo de drogas”, comenta Salgado.Atualmente a maconha é um grande problema de saúde pública no mundo inteiro, por ser a droga mais consumida entre as ilícitas. Por isso, é importante que não fiquem margens para que pareceres e opiniões sejam interpretados de maneira equivocada, validando o consumo de drogas ilícitas.As políticas públicas de combate às drogas e tratamento de dependentes, além do envolvimento da sociedade, são fundamentais para avanços. “Concordamos com a distinção entre quem comercializa a droga e o usuário, que necessita de tratamento, mas isso não pode justificar a liberalização. Se esse fosse o caso, teríamos que liberar qualquer substância que o próprio usuário produzisse? É no mínimo preocupante”, finaliza Carlos Salgado.Efeitos da maconhaOs efeitos da intoxicação aparecem após alguns minutos do uso. Déficits motores, como o prejuízo da capacidade para dirigir automóveis, e cognitivos, como a perda de memória de curto prazo, costumam acompanhar a intoxicação. Além disso, consumo de maconha pode desencadear quadros temporários de natureza ansiosa, tais como reações de pânico, ou sintomas de natureza psicótica.Complicações crônicasA dependência é uma das complicações crônicas do uso de maconha, apesar de não atingir a maioria de seus usuários. Os sintomas de abstinência mais relatados são irritabilidade, nervosismo, inquietação, fissura e sintomas depressivos, insônia, redução do apetite e cefaléia. O consumo prolongado e intenso de maconha é capaz de causar prejuízos cognitivos envolvendo vários mecanismos de processos de atenção e memória. O uso em indivíduos predispostos pode desencadear quadros psicóticos similares à esquizofrenia. O consumo de maconha em indivíduos predispostos está associado ao aparecimento de sintomas psicóticos, em alguns casos definitivos. Quanto ao aparelho reprodutor, há redução reversível do número de espermatozóides.Efeitos psíquicos* Letargia e sonolência* Euforia, bem-estar e relaxamento* Risos imotivados* Aumento da percepção de cores, sons, texturas e paladar* Sensação de lentificação do tempo* Afrouxamentos da associações* Prejuízo da concentração e memóriaEfeitos físicos* Hiperemia das conjuntivas (olhos avermelhados)* Aumento dos batimentos cardíacos* Boca seca* Retardo e incoordenação motora* Piora do desempenho para tarefas motoras e intelectuais complexas* Broncodilatação* Tosse* Aumento do apetite (‘larica’)

domingo, 4 de julho de 2010

Futebol, patriotismo e cerveja

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Por Lilia Diniz. Observatório da Imprensa
Copa do Mundo, a maior festa esporte no Brasil. Em frente à TV, milhões de telespectadores de todas as idades torcem entusiasmados pela seleção brasileira. Dentro dos gramados, nossos craques vendem saúde e... cerveja. Em 2010, a marca Brahma financia quatro jogadores brasileiros e é uma das patrocinadoras oficiais Copa do Mundo realizada na África do Sul. A venda da bebida é lícita e o hábito de acompanhar os jogos de futebol com cerveja é um traço da cultura brasileira, mas é aceitável que um produto cujos malefícios são comprovados cientificamente associe a sua marca à pratica do esporte?

O Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (15/6) pela TV Brasil discutiu a publicidade de bebida alcoólica em eventos esportivos com a presença de dois convidados no estúdio de São Paulo. Erich Beting, diretor da Máquina do Esporte, empresa de cobertura dos negócios do esporte no Brasil e comentarista do canal BandSports é consultor editorial da Universidade do Futebol. Ronaldo Laranjeira é professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas (INPAD) do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). É PhD em psiquiatria pela Universidade de Londres.

O jornalista e apresentador Alberto Dines explicou que a produção do Observatório entrou em contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para saber como a entidade avalia a associação da seleção brasileira com uma marca de cerveja e a assessoria de imprensa garantiu que o time não tem nenhuma bebida alcoólica entre seus patrocinadores. Dines ponderou que a resposta é "curiosa", uma vez que o treinador Dunga e outros jogadores aparecem em comerciais com a camisa amarela.

Patrocina ou não?

O mediador do programa destacou que a explicação fica mais inconsistente porque o site da Brahma assegura que a marca é uma das patrocinadoras oficiais da seleção. O Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) também foi convidado para o debate, mas não pode participar e enviou uma nota (ver íntegra abaixo) na qual afirma que a entidade veta a associação de marcas de bebidas alcoólicas a uniformes de esportes olímpicos e quaisquer apelos que sensibilizem diretamente o público menor de idade.

Em editorial, Alberto Dines ressaltou que quem manda fora dos gramados é a cerveja. "O anúncio de cerveja não é uma peça subliminar, disfarçada: o anúncio de cerveja é concebido para estimular diretamente o consumo da bebida, bebida alcoólica. E, ao associá-la à sensação de alegria e triunfo, emite-se uma mensagem clara: seja um vitorioso também, tome a sua cervejinha ao lado de uma estonteante morena brasileira ou loura importada." Dines sublinhou que o Conar só obedece a uma lei: "crescer sem controles e sem regulação".

A reportagem exibida pelo Observatório entrevistou Robert Galbrait, repórter especial da revista Meio e Mensagem. Galbrait explicou que em 2006 "toda a visibilidade" era concentrada na marca de cerveja Budweiser. Mas, depois da última Copa, o mercado das cervejas ficou mais complexo e a Ferderação Internacional de Futebol Associado (Fifa) precisou mudar o contrato. "A Inbev Anheuser-Busch virou o grande conglomerado mundial das cervejas, de maneira que o marketing desta nova corporação decidiu rever o acordo com a Fifa para fazer com que todas as suas marcas pudessem ser exibidas com este contrato de patrocínio", explicou.

Seleção guerreira

De acordo com o novo contrato, as marcas exibidas nas placas dos estádios durante os jogos serão as comercializadas nos países que estão em campo. Com isso, a Brahma pode entrar no time das marcas que serão exibidas na Copa. No Brasil, a marca de cerveja lançou sua campanha antes do início do torneio. Na peça publicitária veiculada pela televisão, Dunga e a seleção eram apresentados como "guerreiros".

Para Eduardo Tironi, diretor-executivo de Mídias Digitais do diário Lance!, o futebol brasileiro é "mais artístico" e, por isso, bem diferente do apresentado na propaganda. Tironi avalia que o fato de o técnico Dunga – que na sua vida pessoal e na atuação como comandante da seleção sempre buscou valorizar aspectos como "retidão, compromisso e patriotismo" – fazer propaganda de cerveja o deixa em uma posição contraditória. "Ao mesmo tempo em que o Dunga não aceita indisciplina em seu grupo, quer dedicação total, quer treinamento, exige ao máximo de seus comandados, ele faz propaganda de um produto que vai um pouco na contramão disso que ele prega", avaliou.

O desembargador Aloísio de Toledo César se disse "horrorizado" com o que acompanha pela televisão e criticou o fato de os jogadores, e principalmente o técnico Dunga, receberem altas quantias para fazer publicidade de bebida alcoólica. Já Robert Galbrait minimizou o impacto da publicidade: "Sinceramente, eu não consigo acreditar que uma criança vá ver uma marca – Brahma – e associar com o consumo de álcool".

Ilana Pinsk, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), avalia que a ligação do álcool com o esporte "não tem sentido" porque uma pessoa que consuma exageradamente o produto não terá capacidade de apresentar um bom desempenho no esporte.

A palavra da Ambev

Milton Seligman, diretor de relações corporativas e comunicação da Companhia de Bebidas da Américas (AmBev), disse que a empresa assina os comerciais da Brahma, que é patrocinadora, mas no uniforme da seleção usa a marca de um refrigerante. "Cervejas patrocinam times de futebol no mundo todo. No caso da companhia, nós patrocinamos a seleção brasileira e a seleção argentina. Na verdade, há muitos anos, a Quilmes patrocina a seleção da argentina e há dez anos a Ambev patrocina a seleção brasileira. Na camisa do Brasil, à exceção da grande maioria dos países e seguindo rigorosamente a autorregulamentação, nós usamos a marca Guaraná Antártica", ponderou.

Seligman destacou que as pesquisas mostram que o futebol – tanto em termos de audiência pela TV quanto em relação ao público que assiste às partidas nos estádios – é um esporte acompanhado majoritariamente por adultos; por isso, não há problema em fazer propaganda de álcool ligada ao futebol. Sobre o horário em que os comerciais são veiculados, Seligman afirmou que a bebida é anunciada em programas dirigidos ao público adulto, independente da hora em que são transmitidos. O uso de ídolos do esporte em comerciais de bebida é válido, na opinião de Seligman, desde que a publicidade não seja dirigida diretamente ao público infantil ou aos jovens.

No debate ao vivo, Dines pediu a opinião do psiquiatra Ronaldo Laranjeira sobre as afirmações de que as crianças não associam a publicidade de uma marca de cerveja ao consumo de álcool e que o público do futebol é majoritariamente adulto. "É surpreendente. Eu não sei em que mundo essas pessoas vivem, em que bombardear todos os dias as nossas crianças com propaganda de cerveja não tem uma influência no seu comportamento", criticou Laranjeira. Na sua opinião, as pessoas que associam os símbolos nacionais com a propaganda de cerveja estão cometendo um crime contra os valores da sociedade brasileira, que se expressam claramente em um momento como a Copa do Mundo.

O papel do governo

Laranjeira chamou a atenção para o fato de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou recentemente uma resolução segundo a qual, dentro das políticas mundiais de combate ao consumo excessivo de álcool, é preciso restringir ao máximo as propagandas de cerveja. Estas causam impacto maior na parcela da população que ainda não desenvolveu um padrão de consumo: as crianças e adolescentes. Para Laranjeira, o Ministério da Saúde poderia utilizar a resolução da OMS para promover um debate público sobre o tema. Na visão do psiquiatra, o ministério perdeu a chance de ter um papel de liderança e de se opor à "venda de valores nacionais pela CBF".

Dines perguntou a Erich Beting se a publicidade de bebida alcoólica poderia ser banida do futebol da mesma forma como, no passado, a propaganda de cigarro foi proibida em eventos automobilísticos. Beting disse que o caminho é o próprio esporte negar este tipo de comercial e se colocar em uma posição de soberania. Segundo o jornalista, a CBF fatura mais de 200 milhões de reais em publicidade e o contrato com a AmBev não corresponde a 10% desta soma – portanto, a seleção brasileira não dependeria necessariamente deste patrocinador.

"Cabe ao esporte e às próprias empresas de comunicação não aceitarem esse tipo de publicidade ou colocar-se a serviço desse tipo de indústria. Perde-se um pouco de dinheiro, mas, sem dúvida, ganha-se em retorno de imagem, em retorno institucional e, mais do que isso, o apelo da população que é contra este tipo de associação", avaliou.

Por Lilia Diniz. Observatório da Imprensa

Brasil passa de consumidor a exportador de ecstasy

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tn_620_600_ecstasy_consumo_drogas_25-06Mercado de drogas sintéticas avança no país, que tem 1,65 milhão de usuários, segundo as Nações Unidas

Gazeta do Povo - Fabiane Ziolla Menezes

Enquanto o mercado global de heroína e cocaína se estabiliza, o de drogas sintéticas avança. É o que mostra o Relatório Mundial de Drogas, divulgado nesta semana pelo Escritório sobre Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (Unodc) 2010, que analisou dados de 2008 sobre o consumo de drogas. Estima-se que no Brasil existam mais de 1,65 milhão de usuários de anfetaminas, ecstasy e LSD (sigla para dietilamina do ácido lisérgico), os principais representantes dessa classe de substâncias ilícitas. O uso está intimamente ligado ao público jovem e aos que querem emagrecer.

Recentemente, o Brasil entrou no rol de fabricantes de ecstasy. Em 2008, o primeiro laboratório da droga, de pequena escala, foi descoberto no país, mais precisamente em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Na época, mil unidades foram apreendidas. No ano seguinte, um segundo laboratório, que produziu cerca de 2 milhões de comprimidos em pouco mais de um ano – quantidade três vezes maior que as 620 mil unidades apreendidas pela Polícia Federal entre 2002 e o ano passado –, foi fechado em Imaruí (SC). Neste ano, o país também entrou na lista dos “ex­­portadores” da droga. Apreensões de ecstasy na Holanda, Sué­­cia e França apontaram o Brasil como origem.

Aumento do consumo é tendência mundial

O Relatório Mundial de Drogas do Unodc indicou uma tendência global no aumento do consumo de anfetaminas. Em 2005 e 2006, o Brasil foi apontado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) como o maior consumidor mundial dessas substâncias com finalidade emagrecedora: 9,1 doses diárias para cada 1.000 habitantes.

Maconha é o entorpecente mais usado no mundo, segundo estudo da ONU

Com um crescimento expressivo, principalmente na América do Sul, a maconha continua a ser a droga mais utilizada em todo o mundo, de acordo com o relatório do Escritório sobre Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (Unodc). A droga é a mais apreendida no Paraná, principalmente por causa da ligação com o Paraguai, país que cultiva a droga.

Cocaína escondida em aparelhos eletrônicos

Um casal de europeus e quatro curitibanos foram presos ontem em Curitiba, pela Polícia Federal, acusados de fazer parte de uma quadrilha de tráfico internacional de drogas. O grupo escondia cocaína em equipamentos elétricos e mecânicos que eram exportados em navios para a Europa.

Rivaldo Venâncio, chefe da Delegacia de Repressão a En­­torpecentes da Polícia Federal no Paraná, no entanto, diz que o tráfico de ecstasy e LSD é de difícil rastreamento e praticado, normalmente, por jovens de classe média. “Existe um movimento no sentido do Brasil para outros países no qual se ‘exporta’ cocaína e os traficantes recebem como pagamento não dinheiro, mas drogas sintéticas”. Ele explica que a apreensão é difícil porque essas drogas são de pouco volume e os traficantes, de alto nível social, não se encaixam no perfil normalmente investigado pela polícia. “Facilmente se esconde 200 pontos de LSD junto à bateria de um telefone celular”, exemplifica.

Dependência

A fundadora do Núcleo de Es­­tudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da Uni­versidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a psiquiatra Maria Theresa Aquino, diz que o atendimento a jovens usuários de ecstasy aumentou muito tanto no núcleo quanto no seu consultório. “Mas a quantidade de dependentes da droga é ínfima”.

O coordenador científico do Programa de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Arthur Guerra de Andrade, confirma o baixo grau de dependência do ecstasy em relação a outros entorpecentes. “Isso ocorre porque o uso dessa droga acontece em momentos específicos, dispersos, como as festas de fim de semana. Ninguém toma uma ‘bala’ (outro nome pelo qual o ecstasy é conhecido) e vai trabalhar.” O uso frequente da droga nos ditos momentos de lazer, no entanto, provoca dificuldades em se manter uma vida regrada, com consequências sociais, como a perda do emprego.

O psicólogo do Centro Psiqui­á­trico Metropolitano, referência para Curitiba e região, Vasco Carneiro dos Santos Filho, diz que em 30 anos de atuação atendeu dois casos de dependência de anfetaminas. “Há também os casos de associação de drogas. É muito difícil achar um usuário puro.”

Efeitos

O ecstasy é comercializado sob a forma de comprimido ou cápsula, geralmente com um símbolo gravado, sendo conhecido, entre outras nomenclaturas, por E, XTC, Adão e Eva, Pastilha. É como um medicamento sem controle de qualidade. Repetir uma dose que “não deu em nada antes” não significa estar seguro, já que a formulação pode ser totalmente diferente.

Sintetizado e patenteado em 1914, inicialmente como moderador de apetite, o ecstasy tem seu efeito alucinógeno caracterizado por alterações na percepção do tempo, diminuição da sensação de medo, ataques de pânico, psicoses e alucinações visuais, e provoca efeitos estimulantes como o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, boca seca, náusea, sudorese e euforia. Segundo os especialistas, essa combinação de efeitos pode levar a problemas como desidratação e hipotermia.

No caso do LSD, a experiência do usuário é bastante particular. Alucinógeno poderoso, com alguns microgramas tem-se uma gama de alterações, que dependem da história de vida e das expectativas de cada indíviduo. “Enquanto alguns experimentam um estado de excitação e atividade, outros tornam-se quietos e passivos. Sentimentos de euforia e excitação alternam-se com episódios de depressão, ilusões assustadoras e sensação de pânico”, explica o psiquiatra e pesquisador Luiz Renato Carazzai.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Álcool ameaça 22% dos universitários

Álcool ameaça 22% dos universitários PDF Imprimir E-mail
Esse é o índice de jovens sob risco de desenvolver dependência, segundo pesquisa da Senad nas 27 capitais brasileiras.
"Quanto mais precoce o uso, maiores as chances de dependência", diz um dos responsáveis pelo levantamento

Folha de São Paulo - LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA
Um em cada cinco universitários brasileiros (22%) está sob risco de desenvolver dependência de álcool, de acordo com o mais recente levantamento realizado em universidades públicas e privadas do país.
O risco é considerado moderado para 19,2% e elevado para 2,6%, segundo a pesquisa encomendada pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas). Para o estudo, foram entrevistados cerca de 18 mil estudantes, nas 27 capitais do país em 2009.
O risco foi calculado levando em conta um teste desenvolvido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre frequência e consumo pesado de bebidas.
O levantamento também mostrou que o per igo quanto a uma possível dependência de álcool é maior para os homens (29%) do que para as mulheres (16%).
"Quanto mais precoce o uso de álcool, maiores as chances de desenvolver uma dependência alcoólica", disse o médico Arthur Guerra, um dos responsáveis pelo levantamento.
Os dados revelam que o jovem brasileiro começa a beber cedo -80% dos universitários com menos de 18 anos responderam já ter consumido bebida alcoólica.
Além disso, dentro das faixas etárias, os jovens de 18 a 24 anos são os que mais bebem.
O consumo pesado (cinco ou mais doses para homem e quatro ou mais doses para mulheres, num período de duas horas) atinge um patamar preocupante.
Um em cada quatro universitários afirmou ter bebido nesse padrão nos 30 dias anteriores ao teste.