segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Crack sai dos guetos e se alastra pelo país

O consumo se disseminou a tal ponto que o presidente Lula veio a público externar sua preocupação.

Ele determinou a criação de um seminário nacional que discuta a questão do crack e seus efeitos nocivos na juventude brasileira. "Eu nunca vi tanta gente se queixando dos efeitos do crack como tenho visto atualmente quando converso com os prefeitos", disse Lula, em entrevista recente.

O crack se alastra porque é uma droga barata e mais viciante (e devastadora) que as outras. Drogas como maconha, cocaína e LSD foram ícones de uma época - chegaram às ruas quase como um passaporte de entrada obrigatório para certos círculos sociais, principalmente nos anos 70 (maconha) e 80 (cocaína). Já o crack nunca teve glamour.

A Cracolândia, área mais degradada do decadente centro de São Paulo, era praticamente seu único habitat. Acabou se alastrando no boca a boca, chegando à classe média. "Não existe essa coisa de droga de pobre ou droga de rico", diz o dr. Carlos Salgado, presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas). "Uma droga leva à outra. Quem fuma maconha pode passar a fumar crack quando ouve que aquilo vai dar um barato maior."

O crack nasceu nos guetos americanos e se alastrou pelo mundo, principalmente nas grandes cidades. Mas hoje já há relatos de grupos de viciados até em plantações de cana no Brasil. Nas cidades do interior, lugares como rodoviárias e praças centrais parecem ter se tornado "filiais" da cracolândia paulistana.

No Rio, os próprios traficantes coibiam a disseminação do crack devido ao seu enorme potencial viciante - havia o risco de os "funcionários" do tráfico ficarem "inúteis" depois de consumirem o crack e, por ser uma droga mais barata, o foco das vendas sempre foi a maconha e a cocaína. "Mas agora isso saiu de controle.

Vejo o crack se alastrando de forma alarmante", diz o rapper MV Bill, espécie de líder comunitário da Cidade de Deus, uma das regiões mais pobres do Rio de Janeiro. "Vejo crianças se viciando. Vejo meninos partindo para o latrocínio e meninas se prostituindo em troca de crack. É um cenário muito preocupante e vejo pouca movimentação das autoridades no sentido de coibir o crescimento dessa droga", emenda MV Bill.

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